Podemos definir o livro numa acepção mais ampla, como sendo todo e qualquer dispositivo através do qual uma civilização grava, fixa, memoriza para si e para a posteridade o conjunto de seus conhecimentos, de suas descobertas, de seus sistemas de crenças e os vôos de sua imaginação. Ou, num contexto mais moderno, segundo palavras do próprio Lucien Febvre (Martin, 1992:15): livro é o instrumento mais
poderoso de que pode dispor uma civilização para concentrar o pensamento disperso de seus representantes e conferir-lhe toda a eficácia, difundindo-o rapidamente no tecido social, com um mínimo de custos e de dificuldades. Sua função primordial é ''conferir [ao pensamento] um vigor centuplicado, uma coerência completamente nova e, por isso
mesmo, um poder incomparável de penetração e de irradiação".

(Arlindo Machado, no ensaio "Fim do livro?")

terça-feira, 3 de agosto de 2010

SÃO FEIAS... MAS SÃO MULHERES!

POR ROSMARIO ZAPORA



Hoje em dia a beleza é fundamental... Assim declara a mídia e ainda fala o significado de beleza: mulheres magras, com rosto perfeito e sem nenhuma mancha. Mas nem sempre foi assim, outrora a beleza era de diferentes maneiras e às vezes isolada. E para comprovar isto mostrarei o ponto de vista de um grande admirador da beleza feminina, o poeta Gregório de Matos.
Viveu na Bahia no século XVII, em uma época que existiam muitos tipos e raças de mulheres: brancas, negras, baixas, altas, velhas, novas, viúvas, casadas, solteiras, fidalgas, escravas, freiras e prostitutas; e teve o prazer de apaixonar-se e possuir várias de cada gênero.
Ao contrário do que pensam hoje, Gregório via nas mulheres belezas distintas e raras em mínimos detalhes, e em cada mirada seu desejo brotava e sua vontade de tê-las crescia.
Desde seus tempos de criança, quando aluno em colégios jesuítas, já admirava figuras e imagens de mulheres e santas em livros que lia, e com o passar do tempo tomou gosto e prazer em fazer isto.
“São feias, mas são mulheres”... Estas palavras que o poeta adorava repertir explicam que não interessava- lhe a beleza por um todo, mas a beleza que contém a mulher, seus corpos despertavam lhe os mais diversos sentimentos, desde o mais terno ao mais voraz.
Ao passar uma escrava, não pensava que era uma escrava e sim uma mulher, com um belo molejo em seus quadris, com seus seios arredondados, que muitas vezes tivera a sorte e o prazer de velos, para fora das roupas surradas e sujas das cativas, e os belos pés negros descalços pelas ruas da Bahia.
Quando via uma nobre fidalga, muitas vezes de rostos marcados pelas primaveras vividas, apreciava uma orelha bem desenhada, um belo par de tornozelos, que por descuido apareciam no levantar das várias faldas que utilizavam.
As prostitutas... Ah as prostitutas, as suas primeiras fãs, nenhum homem travava elas igual Gregório. Sempre após de possuir uma delas, e sempre com muito carinho e desejo, recitava poesia ou contava algo interessante, coisas que elas adoravam.
Gregório apreciava delicadezas e até mesmo as grosserias, sim, grosserias, por que uma mulher furiosa tem feições penetrantes. As formas da mulher era umas das coisas que mais sabia admirar e gostava de fazer: as belas coxas grossas, nádegas avantajadas, mãos macias, etc.
Talvez um pensamento de Gregório possa se comparar com os pensamentos de hoje, ou pelo menos a idéia central, que as mulheres são demônios.
Hoje uma grande parte dos homens pensam que elas, na maior parte do dia, só servem para falar da vida alheia, arrumar conflitos, gasta dinheiro e se preocupar com coisas fúteis, não que Gregório de Matos não pensara isto também, mas pensava mais nas mulheres demônios no amor. As mulheres quando possuídas na cama se transformavam, as santas se tornavam pecadoras enlouquecidas, as com rostos celestiais eram as mais perigosas e as feias e gordas também não ficavam atrás.
Tudo isto que escrevo nestas linhas é comprovado pelos belos poemas que fez, como por exemplo, para Ângela de raríssima formosura, ou então para Custódia, sua parenta. Declarava-se de várias formas, inclusive com instrumentos, como fez para Catarina a quem dedilhou ternamente as cordas da lira. O poema a seguir é um dos exemplos, que fez a Maria dos Povos, um rebento de amor que viera ser sua esposa no futuro:

“Discreta e formosíssima Maria,
Enquanto estamos vendo a qualquer hora
Em tuas faces a rosada Aurora,
Em teus olhos, e boca o Sol, e o dia:
Enquanto com gentil descortesia
O ar, que fresco Adônis te namora,
Te espalha a rica trança voadora,
Quanto vem passear-te pela fria:
Goza, goza, da flor da mocidade,
Que o tempo trota a toda ligeireza,
E imprime em toda a flor sua pisada.
Oh não aguardes, que a madura idade
Te converta em flor, essa beleza
Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.”


Como falei acima, ele sem preconceitos, gostara de todas as raças, este exemplo a seguir, é para demonstrar o afeto que tinhas pelas belas mulatas:



Minha rica mulatinha,
desvelo e cuidado meu,
eu já fora todo teu,
e tu foras toda minha;
Juro-te, minha vidinha,
se acaso minha qués ser,
que todo me hei de acender
em ser teu amante fino pois
por ti já perco o tino,
e ando para morrer.

Estas poesias mostram bem o seu parecer sobre as mulheres, a imagem de anjos e ao mesmo tempo uma fonte de pecados, fonte esta que tanto gostara de beber e esbaldar se.
Claro que nem sempre obtera sucesso, mas mesmo assim não deixara de as amar ou querelas, muito ao contrário do que as vezes ocorre hoje, que um simples não, transforma a formosa e bela guria, em uma arrogante e horrível prostituta.
Creio que o que escrevi aqui pode ser um grande exemplo de um grande conqusitador mas acima de tudo um observador. Observador que mostra nos o quão importante é ver uma mulher com olhos de poeta, ver que todas elas têm suas belezas e defeitos, mas que fazem delas mulheres, um anjo e demônio ao mesmo tempo, que não vivemos sem, e isso Gregório sabia e muito bem. Podem ser magras, com rosto perfeito e sem nenhuma mancha, mas também gordas com marcas de expressões, amargas e nervosas, doceis e amáveis, morenas e claras, lindas ou feias... feias, mas são mulheres.

REFERÊNCIAS
• MIRANDA, A, Boca do Inferno, 1989;
• http://pt.wikipedia.org;
• http://www.infoescola.com/escritores/gregorio-de-matos-guerra/;
• http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/sala_de_aula/portugues/literatura_brasileira/autores/lirica;
• http://www.filologia.org.br/ixcnlf/2/01.htm
• http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/picaros.html.

Nenhum comentário:

Postar um comentário