Podemos definir o livro numa acepção mais ampla, como sendo todo e qualquer dispositivo através do qual uma civilização grava, fixa, memoriza para si e para a posteridade o conjunto de seus conhecimentos, de suas descobertas, de seus sistemas de crenças e os vôos de sua imaginação. Ou, num contexto mais moderno, segundo palavras do próprio Lucien Febvre (Martin, 1992:15): livro é o instrumento mais
poderoso de que pode dispor uma civilização para concentrar o pensamento disperso de seus representantes e conferir-lhe toda a eficácia, difundindo-o rapidamente no tecido social, com um mínimo de custos e de dificuldades. Sua função primordial é ''conferir [ao pensamento] um vigor centuplicado, uma coerência completamente nova e, por isso
mesmo, um poder incomparável de penetração e de irradiação".

(Arlindo Machado, no ensaio "Fim do livro?")

sexta-feira, 9 de julho de 2010

A NUDEZ DO ÍNDIO VISTA PELOS CRONISTAS DO DESCOBRIMENTO

POR YARA FERNANDA NOVATZKI
Acadêmica do 2º ano de Letras Português-Inglês. Ponta Grossa-PR

Contato: yarafernandan@hotmail.com

A Literatura de Informação ou Quinhentismo foi um movimento que surgiu no século XVI, na época em que o Brasil foi descoberto, quando os viajantes vieram para cá por meio das grandes navegações, com toda a ganância da expansão marítima, conquistas e dominações de novos territórios, tentando ganhar espaço e novos adeptos ao seu modo de viver. E foi aqui que encontraram o que realmente eles queriam, um “prato feito”, pronto para a apropriação dos Portugueses.
Admirados com todas as belezas encontradas aqui, os que eram testemunhas de tal acontecimento passaram a fazer relatórios, documentos e cartas para descrever, noticiar e exaltar a exuberância da fauna, da flora, dos habitantes e das riquezas que aqui se encontravam, de forma a apresentar aos seus superiores, em Portugal, a respeito do Novo Mundo que haviam encontrado.
Estes textos escritos só foram traduzidos e publicados a partir do século XIX, por falta de estruturas que viabilizassem tal feito e pelas poucas condições que havia para a impressão dos livros. Antes disso, para que as pessoas conhecessem as histórias que os livros continham, eles eram reproduzidos através de cópias manuscritas feitas, por exemplo, pelos monges.
A linguagem usada pelos autores na época era bastante estilizada, contendo inúmeros adjetivos e muita criatividade por parte dos autores, de modo que apresentavam na escrita muita riqueza e precisão de detalhes, sendo fiéis ao máximo a respeito do que estavam vendo e sentindo.
Dentre os principais autores que se destacaram naquela época, mencionarei apenas cinco deles, Pero Vaz de Caminha, Hans Staden, André Thevet, Gabriel Soares de Sousa e Fernão Cardim identificando, dentre muitas coisas que eles escreveram, a respeito de como viam a nudez dos índios.
O primeiro autor a ser abordado é Pero Vaz de Caminha, que veio para o Brasil com o título de escrivão da armada. Foi autor de uma importantíssima carta escrita para El Rei D. Manuel, a respeito das primeiras impressões tidas do Brasil. Esta carta foi escrita entre os dias 26 de abril e 1º de maio de 1500, e é considerada o primeiro documento escrito da História do Brasil, em forma de relatório, apresenta uma ordem cronológica e clareza dos fatos narrados.
Como muitos autores da época, certamente, o que mais chamou a atenção e causou maior estranheza aos Portugueses que aqui chegaram, foi, a primeira vista, o modo como os indígenas se “vestiam”.
Essa primeira impressão gerou constrangimento e indignação diante da nudez dos índios, e isso é relatado de forma bem explícita em vários trechos da carta escrita por Caminha para El Rei, como pode-se perceber:

 “[...] homens pardos, todos nus, sem nenhuma coisa que lhes cobrisse suas vergonhas.” (CAMINHA, 1500, p. 2)

A feição deles é serem pardos, [à] maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura, nem estimam cobrir nenhuma coisa, nem mostrar suas vergonhas: acerca disso, estão em tanta inocência como tem em mostrar o rosto. (CAMINHA, 1500, p. 2)

Percebe-se que as maneiras como os índios se portavam diante dos portugueses eram vistas como algo que incomodava, era inadmissível para quem era membro de uma sociedade em que as roupas, na maioria das vezes, eram as que denunciavam qual era o nível social que a pessoa se encontrava, como no caso de Caminha.
Acredito que era por isso que os índios eram tratados pelos Portugueses, devido à influência da carta de Caminha, como inocentes, pois, eram “donos” de tantas riquezas presentes ali e não se davam conta, por causa dos seus costumes de andarem nus, de tal realidade. E como os índios, segundo os Portugueses, talvez não tivessem tanta capacidade para administrar todas estas riquezas, logo os Portugueses, por interesses próprios, passariam a tomar conta de tudo.
Em relação ao tratamento dado às índias, mulheres e moças, soou de forma diferenciada esta visão que Caminha tinha a respeito dos índios (homens), me pareceu mais a vontade ao ver as índias nuas. Como se pode notar a seguir:

"Entre eles ali andavam três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, com cabelos muito pretos compridos pelas espáduas, e suas vergonhas tão altas e tão cerradinhas, e tão limpas das cabeleiras, que de nós muito bem olharmos não tínhamos nenhuma vergonha. [...]. Uma daquelas moças era toda tinta daquela tintura, de fundo acima, a qual, certo, era tão bem feita e tão redonda, e sua vergonha, que ela não tinha, [era] tão graciosa que a muitas mulheres da nossa terra -vendo-lhe tais feições- faria vergonha, por não terem a sua como ela." (CAMINHA, 1500, pp. 04-05)

Foi bem ousado ao fazer estes comentários, chegando até a comparar a “beleza” “superior” da índia em relação às mulheres portuguesas, ficando evidente que estava gostando e admirando tudo aquilo que estava vendo. E como Caminha era católico, e a imagem do corpo nu era símbolo do pecado, ele por um instante ao admirar as “vergonhas” das índias se deixou cair em pecado, deixando transparecer o seu lado mais malicioso.
Por não aceitar este tipo de atitude, andar nu, não aceitar os costumes que os índios tinham, Caminha tenta de alguma forma fazer com que eles se “vistam” com os costumes dos brancos, com roupas descentes, para que se adaptem a viver conforme os Portugueses estão acostumados. Percebe-se isso nos seguintes trechos:

“[...] deu-lhes um barrete vermelho e uma carapuça de linho, que levava na cabeça, e um sombreiro preto.” (CAMINHA, 1500, p.2) e “Deu-lhe [o capitão] uma camisa mourisca; ao outro, uma camisa dessas outras.” (CAMINHA, 1500, p. 13).

"Dos que o capitão trouxe, um deles era um dos seus hospedes, que, à primeira [vez], quando aqui chegamos, lhe trouxeram –o qual veio hoje aqui vestido com a sua camisa- e com ele o seu irmão, os quais, nessa noite, foram mui bem agasalhados, assim de vianda, como de cama, de colchões e lençóis, para mais os amansar." (CAMINHA, 1500, p.12)

Insistentemente, devido à “inocência” do índio, queriam mudar o modo como eles andavam. Tentando empregar uma cultura que não fazia parte da realidade em que viviam, tentando torná-los civilizados, mas com resultados não muito satisfatórios: “[...] os quais [os índios] vinham já nus e sem carapuças” (CAMINHA, 1500, p. 4), como escreve o próprio Caminha.

Isso fica evidente em um pequeno poema escrito por Oswald de Andrade que retratou exatamente o que aconteceu naquele momento do descobrimento, e que deixou resquícios identificados até hoje a respeito dos índios, que diz:

"Quando o português chegou
Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena !
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português"

Foi possível perceber, analisando alguns fragmentos da obra de Pero Vaz de Caminha, o quanto a nudez do índio incomodou, de certa forma, a visão que ele teve do Brasil, e que expressou plenamente na Carta enviada ao Rei.
Apesar de relativamente curta, grande parte da carta apresenta trechos voltados para o lado de como os índios “se vestiam”, de como andavam pintados e de como se portavam na presença dos Portugueses, evidenciando aí, a indignação dos corretamente vestidos (Portugueses) diante da ingenuidade daqueles que eram vestidos de vergonha (os índios).
Outro autor de grande importância é Hans Staden, um grande aventureiro que fez duas viagens para o Brasil. Na primeira, veio como artilheiro numa nau até Pernambuco, e depois retornou até Lisboa, na segunda, veio incorporado à armada, mas, o navio em que se encontrava naufragou, então ele foi capturado por uma tribo de índios canibais chamados de Tupinambás.
Permaneceu com eles por cerca de nove meses sendo considerado refeição para os canibais, aprendendo um pouco dos seus costumes, até ser resgatado mais tarde por um navio francês, voltando novamente para a Europa.
Com estas aventuras ele escreveu um livro chamado “Duas viagens ao Brasil”, que foi organizado de forma bem objetiva, contando sobre a sua viagem e a descrição do modo de vida dos nativos, o que faz com que a sucessão de peripécias vividas por ele envolva o leitor.
A respeito da nudez do índio, percebe-se claramente a diferença existente entre o que o Staden e o Caminha escrevem. Hans trata a nudez naturalmente, não julga o modo como os índios se vestiam, apenas descreve aquilo que vê diariamente no tempo em que permaneceu no meio deles.
Vejamos no trecho a seguir a naturalidade com que fala da nudez ao descrever o que tinha visto aqui no Brasil:

“As árvores estão sempre verdes. Lá não crescem madeiras parecidas como as nossas madeiras de Hessen. Os homens andam nus. Na parte da terra que fica entre os trópicos [...]” (STADEN, 2008, p.133).

Sem nenhum tipo de espanto, ele fala do modo como se vestiam, apenas menciona, porque certamente era algo que não poderia passar despercebido, já que de onde vinha isso não era algo comum.
O que pode ter ajudado ele a não maliciar, não causar espanto no modo como os índios viviam, ao escrever o livro, foi o fato de ele ter tido que conviver com eles por um tempo, e se envolver com os costumes que os índios empregavam diariamente, então, já estava acostumado com a nudez.
Em outra parte do seu livro, quando descreve a aparência das pessoas fala normalmente como se aquilo que ele viveu com os índios já tivesse fazendo parte da sua rotina diária, pois, passa uma idéia de aceitação diante da situação:

"São pessoas bonitas de corpo e estatura, tanto homens quanto mulheres, da mesma forma que as pessoas daqui, exceto que são bronzeados pelo sol, pois andam todos nus, jovens e velhos, e também não trazem nada nas partes pubianas."( STADEN, 2008, p. 140)

Nota-se que não tem nenhuma malicia ou algum tipo de preconceito diante da nudez, tanto que iguala os homens e as mulheres daqui com os de Portugal.
Em toda sua obra, que é um pouco extensa, parece que a nudez não foi algo que lhe chamou mais a atenção durante o período que permaneceu aqui no Brasil, pois foi difícil encontrar trechos que expressassem esta idéia. Hans Staden deu prioridades a outras coisas, principalmente a antropofagia, que era algo que ele estava sujeito constantemente enquanto estava no meio dos Tupinambás.
Ainda no trecho sobre a descrição da aparência das pessoas pode perceber-se sutilmente que ele era a favor realmente da naturalidade, da nudez com que os índios se apresentavam, como se não admitisse que nenhuma outra “cultura” fosse inserida no modo de vida do indígena.
Falo isso porque ao descrever sobre a pintura que os índios faziam sobre os seus corpos ele diz: “Mas desfiguram-se eles mesmos com a pintura.” (STADEN, 2008, p.140) (grifo meu). Como se a pintura, por mais que fizesse parte dos seus costumes, pudesse apagar, alterar de alguma maneira, um pedaço da cultura dos índios, ficando subentendido o respeito com que via a nudez do indígena.
Já André Thevet via a nudez do indígena de uma forma bem diferente. Ele foi um viajante estrangeiro católico, vindo da França para instalar aqui no Brasil uma espécie de colônia francesa, chamada França Antártica, com a finalidade de investigar sobre as riquezas e as possibilidades que a terra aqui encontrada apresentava.
Permaneceu no Brasil durante dois meses. Meses suficientes para escrever seu livro, chamado “As singularidades da França Antártica”, obra em que relata sua aventura e faz a descrição daquilo que conheceu aqui. Sua escrita tem um estilo simples e objetivo, mas, apesar disso, algo que é encontrado constantemente em sua obra são erros, concepções errôneas e citações de autores para demonstrar erudição, mas, era algo que não possuía.
Quanto aos costumes dos indígenas, de um modo geral, tem uma visão extremamente preconceituosa, como se pode perceber no fragmento a seguir:

“[...] esta terra foi e é ainda habitada por gente prodigiosamente estranha e selvagem, sem fé, sem lei, sem religião, sem civilidade nenhuma, que vive como os animais irracionais, do modo como a natureza a fez, comendo raízes, andando sempre nua (tanto homens quanto mulheres), e isso talvez até que, convivendo com os cristãos, aos poucos se despoje dessa brutalidade, passando a vestir-se de modo mais civilizado e humano.” (OLIVIERI & VILLA, 2009,p. 70)(grifo meu).

Como se pode constatar, a nudez do indígena era para Thevet algo sem explicação que deveria ser corrigido conforme o modo com que os cristãos estavam acostumados a se vestir, descentemente. Foram tratados como seres irracionais, só porque tinham costumes diferentes daqueles que eram brancos e cristãos.
Nota-se na linguagem usada por Thevet, um tom de aversão quando se refere que a nudez fazia parte tanto da vida dos homens quanto das mulheres, que isso só poderia ser banido com a convivência com eles, os brancos, em que seria imposta uma nova cultura para que eles seguissem e se tornassem “mais civilizados e humanos” (OLIVIERI & VILLA, 2009, p. 70).
Chamou-lhe a atenção até o modo como viviam pintados, logo se tornando alvo de críticas, como pode-se perceber:

 “Para cúmulo da deformidade, os homens e as mulheres passam a maior parte do tempo tingidos de negro...” (OLIVIERI & VILLA, 2009, p. 75).

"Como se não lhes bastasse viver nus, pintar o corpo com diversas cores e arrancar-se os pelos, os selvagens também se tornam ainda mais disformes porque, quando ainda jovens, furam os lábios com certa planta muito aguçada." (OLIVIERI & VILLA, 2009, p.74).

Existe aí uma falta de respeito muito grande em relação à cultura dos indígenas, considerando-os deformados e não aceitando os rituais existentes em sua cultura. Thevet só viu coisas negativas nos indígenas durante o pequeno período de tempo que permaneceu aqui no Brasil, dois meses, e ainda os considera como americanos deformados e desfigurados, como se eles não tivessem uma identidade própria.
E ainda abusa quando se refere aos enfeites que utilizavam dizendo: “fazendo no rosto grandes orifícios onde põem pedras graúdas, com o que sentem tanto prazer quanto um senhor daqui em usar jóias ricas e preciosas” (OLIVIERI & VILLA, 2009, p. 75). Fala num tom de ironia, como se o indígena não tivesse o direito de ter algum tipo de prazer que não fosse o que era vivenciado pelos brancos.
Em todos os trechos abordados percebe-se claramente o grande preconceito com que André Thevet tratava os índios, sem nem sequer dar valor a riqueza e perfeição com que Deus havia feito os índios, já que ele se dizia tão católico assim.
Gabriel Soares de Sousa veio para o Brasil com uma expedição. Apaixonou-se pelas terras daqui, mais precisamente pela Bahia, e resolveu permanecer aqui, se tornando, mais tarde, um próspero senhor de engenho, pois, explorava as minas de ouros e diamantes presentes nos arredores da região da Bahia.
Em seis anos que permaneceu aqui, escreveu o livro “Tratado descritivo do Brasil”, uma espécie de enciclopédia, em que registrava as observações que fazia a respeito da natureza e do homem do Brasil, um tipo de propaganda detalhada e exagerada das virtudes e potencialidades da terra, com a intenção de atrair pessoas e investimentos para cá.
Quanto ao tratamento dado aos índios, ele descreve de forma bastante detalhada tudo a respeito da vida, dos costumes e das lutas diárias de várias tribos, como os tupinambás, os tamoios, os papanases, os goitacases etc, com a intenção de fazer com que as pessoas conhecessem melhor os seus costumes.
Em relação à nudez, assim como Hans Staden, apenas descreve a forma com que andavam, falando naturalmente, sem se ater a malícias e julgamentos, como nota-se nos seguintes trechos:

“[...] Papanases: andam nus como o mais gentio, não consentem cabelos nenhuns no corpo, senão os da cabeça, pintam-se e enfeitam-se com penas de cores dos pássaros.”( SOUSA, 1851,p.96).

"Os tupinambás são homens de meã estatura, de cor muito baça, bem feitos e bem dispostos, muito alegres do rosto, e bem assombrados; todos têm bons dentes, alvos, miúdos, sem lhes nunca apodrecerem; têm as pernas bem feitas, os pés pequenos; trazem o cabelo da cabeça sempre aparado; em todas as outras partes do corpo os não consentem e os arrancam como lhes nascem." (SOUSA, 1851, p.300).

Referente aos costumes dos índios ele escreve:

“Costuma este gentio (Carijós) no inverno lançar sobre si umas peles da caça que matam, uma por diante, outra por detrás;”( SOUSA, 1851, p.119) e “[...] os quais (Tupinambás) cobrem os membros genitais com alguma coisa por galantaria, e não pelo cobrir.”(SOUSA, 1851, p.305).

"E em conversação não sabem falar senão nestas sujidades, que cometem cada hora; os quais são tão amigos da carne que se não contentam, para seguirem seus apetites, com o membro genital como a natureza formou; mas há muitos que lhe costumam pôr o pêlo de um bicho tão peçonhento, que lho faz logo inchar, com o que têm grandes dores, mais de seis meses, que se lhe vão gastando espaço de tempo; com o que se lhes faz o seu cano tão disforme de grosso, que os não podem as mulheres esperar, nem sofrer; e não contentes estes selvagens de andarem tão encarniçados neste pecado, naturalmente cometido, são muito afeiçoados ao pecado nefando, entre os quais se não têm por afronta; e o que se serve de macho, se tem por valente, e contam esta bestialidade por proeza; e nas suas aldeias pelo sertão há alguns que têm tenda pública a quantos os querem como mulheres públicas." (SOUSA, 1851, p.308-309)

Retrata literalmente aquilo que viu enquanto permaneceu aqui no Brasil de forma bem detalhada. Como mero observador, tentou passar suas melhores impressões, seguindo a risca tudo aquilo que viu e percebeu sobre os costumes dos indígenas. Esta espécie de “retrato” fez com quem lesse sua obra se aproximasse da realidade que era encontrada aqui, com a finalidade de convencer as pessoas do quanto era boa a vida por aqui.
E finalmente o último autor, também de importância significativa foi Fernão Cardim, padre jesuíta vindo de Portugal como acompanhante de um visitador para conhecer as terras brasileiras.
Permaneceu aqui no Brasil por bastante tempo, tempo este em que escreveu o livro “Tratados da Terra e Gentes do Brasil”, obra em que descreve exageradamente tudo a respeito da cultura, da religião, da etnografia, etc encontradas aqui no Brasil.
Em relação ao modo de vida do indígena faz uma espécie de guia, falando a respeito de tudo que envolvia o modo de vida do indígena, como o que eles comiam, bebiam, como eram suas casas, como recebiam os hóspedes, como se vestiam etc.
No modo de como os índios se vestiam Fernão Cardim ao mesmo tempo em que é bastante descritivo, fala de modo natural, sem julgamentos, com o intuito apenas de apresentar a vida dos indígenas aos leitores. Como percebe-se a seguir:

“[...] para sairem galantes, usão de varias invenções, tingindo seus corpos com certo sumo de uma arvore com que ficam pretos, dando muitos riscos pelo corpo, braços, etc, a modo de imperiaes”.

"Todos andam nus assim homens como mulheres, e não têm gênero nenhum de vestido e por nenhum caso verecundant, antes parece que estão no estado de innocencia nesta parte, pela grande honestidade e modéstia que entre si guardão. [...]. Agora já andão alguns vestidos, assim homens como mulheres, mas estimãono tão pouco que o não trazem por honestidade, mas por ceremonia, e porque lho mandão trazer, como se vê bem, pois alguns saem de quando em quando com umas jornes que lhes dão pelo umbigo sem mais nada, e outros somente com uma carapu¬ça na cabeça, e o mais vestido deixão em casa: as mulheres fazem muito caso de fitas e pentes." (CARDIM, 2010, p. 4).

Percebe-se a admiração com que Cardim escrevia a respeito dos índios, falando da inocência deles de um modo totalmente diferente do modo como Caminha escrevia, trata a inocência como parte integrante da vida do índio, que por serem bons e modestos demais ainda eram tidos como inocentes, humildes devido ao modo como tratavam as pessoas.
No terceiro trecho em que se refere que alguns índios já andavam vestidos, seu modo de falar traz um tom de preservação dos costumes que eles já tinham, percebe que a própria influência dos brancos estava alterando, de alguma maneira, os costumes que os indígenas tinham.
Como foi possível perceber após a análise destes cinco autores da Literatura de Informação é que cada um, a seu modo, chegou a uma conclusão diferente a respeito das impressões tidas do Brasil, mais necessariamente, segundo minha análise, sobre os costumes dos índios, principalmente sobre a nudez deles.
Os que mais se “igualaram” em termos de ideias foram Pero Vaz de Caminha e André Thevet, que usaram um tom mais crítico e duro em relação ao modo como os índios se vestiam, pôde-se perceber que não aceitavam de maneira alguma que eles se portassem daquela maneira, não admitiam os seus costumes.
Enquanto que Hans Staden, Gabriel Soares de Sousa e Fernão Cardim, tiveram uma visão extremamente diferente. Voltaram-se mais para o lado da descrição, falando e tratando tudo naturalmente sem nenhuma intenção de desvalorizar os costumes dos indígenas. Falam com o intuito de fazer com que as demais pessoas conhecessem e admirassem, assim como eles, os modos de vida do “selvagem” que encontraram por aqui.
Por mais que todos tenham tido um olhar diferenciado em relação ao modo de vida dos indígenas encontrados aqui, é indispensável lembrar que todos os colonizadores que chegaram ao Brasil tinham a intenção de catequizar os índios e fazê-los submissos aos seus desejos e suas ordens, explorar, dominar e conquistar cada vez mais territórios, sempre com a justificativa da difusão do Cristianismo, estas atitudes e ações dos colonizadores afetaram, e afetam até hoje, o desenvolvimento das culturas indígenas.

Bibliografia Consultada
CAMINHA, Pero Vaz. Carta de Pero Vaz de Caminha a El Rei D. Manuel, 1500.
CARDIM, Fernão. Tratados de Terras e gentes do Brasil. Disponível em: http://www.consciencia.org/dhttp://www.consciencia.org/do-principio-e-origem-dos-indios-do-brasil-e-de-seus-costumes-adoracao-e-ceremonias-fernao-cardim. Acesso em: 25 de maio de 2010 às 10:48:36.
OLIVIERI, Antonio Carlos & VILLA, Marco Antonio. Cronistas do Descobrimento. 4ª Ed. São Paulo: Ática, 2009.
SOUSA, Gabriel Soares de. Tratado descritivo do Brasil em 1587. Madri, 1851.
STADEN, Hans. Duas viagens ao Brasil: primeiros registros sobre o Brasil. [Tradução Angel Bojadsen, introdução de Eduardo Bueno]. Porto Alegre, RS: L&PM, 2008.

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